10 de novembro de 2011

Foi aquele tipo de festa que vale uma carreira


Há dez anos, Raí encerrava oficialmente a carreira de jogador de futebol. Mais de 48 mil torcedores foram ao Parque dos Príncipes, em Paris, para se despedir do ídolo e vê-lo atuar pela última vez em partida organizada pelo PSG, clube que defendeu entre 1993 e 1998.

A festa contou com a presença dos amigos Mauro Silva, Taffarel, Zico, Júnior e também do irmão Sócrates. Na ocasião, um time formado por brasileiros encarou um combinado de jogadores que já vestiram a camisa do Paris Saint-Germain. Estrela do evento, Raí atuou meio tempo em cada equipe e saiu de campo após empate por 3 a 3.


Dez anos se foram e mesmo depois de tanto tempo longe dos gramados, Raí continua mostrando seu talento numa rotina intensa em São Paulo. Hoje, ele se divide entre as ações sociais da Fundação Gol de Letra (http://www.goldeletra.org.br/) e da entidade Atletas pela Cidadania (http://www.atletaspelacidadania.org.br/) e entre os negócios à frente da empresa Raí+Velasco (http://www.raimaisvelasco.com.br/).

Em entrevista ao http://xn--estado-7ta.com.br por telefone, o ex-craque ainda se recorda da sua festa de despedida em Paris e aponta os momentos mais marcantes de sua carreira, como sua passagem pelo São Paulo. O ex-jogador comenta também o fato de já existir uma geração de garotos que não o viu jogar e dá opinião sobre o atual momento do futebol brasileiro.


O que você se lembra do jogo de despedida organizado para você pelo PSG em 2001?
Foi um jogo que me deixou bastante emocionado, foram vários amigos que participaram. E o Paris Saint Germain também organizou uma grande festa. O Júnior, o Zico e o Sócrates foram recebidos com todas as honras e os amigos franceses da minha época também. Três dias antes, não tinha mais ingressos. Foi o primeiro jogo amistoso no Estádio de Paris a ter todos os ingressos vendidos antecipadamente. Isso me deixou bastante emocionado. Claro que na hora da organização, você acaba se envolvendo bastante. Foi aquele tipo de festa que vale uma carreira.

Você acha que esperou demais para fazer esse jogo (já havia parado de jogar havia 16 meses)?
Logo que parei, já estava me envolvendo com alguns projetos e não daria mesmo para fazer qualquer partida. A Fundação Gol de Letra foi uma das razões pelo jogo ter acontecido, porque a renda foi toda para ela. E por isso acabou demorando um pouquinho mais, um ano depois. Mas acho que esse tempo é dentro do esperado principalmente em se tratando de uma festa fora do Brasil, com todas as dificuldades que isso traz: calendários dos jogos, calendários para liberar um estádio e para a organização da festa. Acho que precisava de um tempo mesmo.

Quais são os momentos da sua carreira que considera mais marcantes?
Teve o Mundial entre São Paulo e Barcelona. A final da primeira Libertadores. A final de 1991 (Campeonato Paulista) contra o Corinthians, que foi 3 a 0 e eu fiz os três gols; foi um divisor de águas na minha carreira. E, em Paris, a gente ganhou uma Copa Europeia, que foi também a primeira Copa da história do Paris Saint-Germain. Foi um momento marcante, entre tantos outros títulos em Paris. Acho que meu último jogo lá e esse jogo de despedida também foram fantásticos.

E você sente falta dos gramados depois desses 10 anos?
Na verdade, eu sinto falta de jogar futebol com mais frequência. Sinceramente, não sinto falta da competição, daquele ambiente no estádio. É claro que é gostoso, mas devido às limitações físicas a gente sabe que já não é mais possível. Não chego a sentir falta porque aproveitei bem o tempo em que jogava, mas sinto falta de jogar mais frequentemente, mesmo que seja brincadeira com os amigos. Sinto falta do contato com a bola.

Já existe uma geração crescendo que não te viu jogar. Como você vê isso?
Ao mesmo tempo que dá vontade de mostrar muita coisa que eu passei para as pessoas que não acompanharam, são-paulinos principalmente, é uma alegria quando você vê que muitas gerações já ouviram falar e passam as informações de geração para geração. Os pais e avós passam isso para as crianças e você vê que existe um respeito pela minha história, mesmo elas não tendo me visto jogar. Acho que tem esse lado que o brasileiro está aprendendo a cultivar, que tem muito na Europa, de valorizar a história, as conquistas históricas, os personagens. Na França isso já é mais natural, muitas gerações mais novas me reconhecem. Por exemplo, todo ano tem um livro sobre a história do clube, um vídeo ou um documentário. Sempre tem muito produto valorizando a história e acabam me citando. Então, as gerações mais novas também me conhecem e isso dá uma satisfação interessante.


Como você vê o futebol brasileiro hoje?
Embalado por esse momento econômico, os clubes estão tendo algumas novas estratégias de segurar os grandes jogadores ou trazer novos ídolos. Acho que o futebol precisa de, como em todo esporte, ídolos jogando aqui no Brasil. Isso está começando e é um aspecto positivo. Acho que ainda há um bom caminho para a profissionalização dos clubes, mas que pouco a pouco isso vai ser inevitável. A gente sabe que não dá para segurar os jovens craques tanto tempo assim, mas já é muito mais do que foi nos últimos dez anos. Quanto mais tempo eles ficarem, mais o futebol brasileiro ganha. O futebol de uma maneira geral é valorizado porque chama a atenção do mundo.

Qual é a sua opinião sobre a influência de craques como Neymar na vida dos jovens brasileiros?
Acho que hoje ganhou outra dimensão e isso vem crescendo. A minha geração já tinha mais influência do que outras do passado. Hoje, passou a ter uma dimensão realmente de estrelas e isso tem um impacto, uma influência muito grande nos torcedores. Isso traz uma graça maior para o espetáculo porque são estrelas que as pessoas gostam de acompanhar. Ao mesmo tempo, é uma grande responsabilidades por estarem sendo cada vez mais visados por um público que vai ser influenciado por eles.

Você acabou se engajando em movimentos sociais. Sempre teve vontade de ajudar as pessoas?
Sempre tive o desejo de colaborar, mas antes era de uma forma mais superficial. Nos últimos três ou quatro anos da minha carreira, a ideia foi crescendo e criando um formato mais concreto na minha cabeça.

Você acha que a Fundação Gol de Letra tem servido de inspiração?
A Gol de Letra foi uma das primeiras entidades desse tipo e serviu de exemplo para outros atletas e para personalidades se envolverem em movimentos da sociedade. Acho que a força de mobilização dos atletas pode ser usada cada vez mais para essas causas. Espero que essa nova geração se alerte para isso e que possa estar usando todo o seu poder para boas causas e que assim a gente possa ter um País melhor.

Esse artigo foi escrito por Roberta Oliveira

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