17 de agosto de 2015

Fechado com Osório


O sábado se desenhava agradável para o torcedor do São Paulo no confronto contra o Goiás: horário razoavelmente atrativo, boa vitória no meio da semana, evolução no desempenho em campo. O que se viu, contudo, foi um incontestável 3×0 que o Tricolor levou. Como são-paulino, falar racionalmente sobre esse vergonhoso revés, em casa, é difícil. Foi das piores atuações que vi do meu time em muitos anos sob todos os aspectos (e olhe que, para se ater apenas a futebol, essa segunda década do novo século não tem sido nada agradável).
Neste cenário trágico, muitas vaias, xingamentos e gritos começaram a ser escutados no Morumbi sem nem o cronômetro ter atingido a metade do segundo tempo. Ganso e Tolói foram as vítimas nominais dos apupos, intercalados por cantos genéricos de “time sem vergonha”, de “respeito com a camisa tricolor” e o irônico “olé” no toque de bola tricolor.
Protestos compreensíveis (agressões, nunca), apesar de – por princípio, sobretudo quando se desenhava um progresso tático no futebol são-paulino antes desse cruel jogo contra o Goiás – preferir apoiar nos 90 minutos. Entendo como válidas as manifestações antes, no tempo de acréscimo da etapa complementar ou mesmo após o jogo, com o apito final do árbitro devidamente trilado.
Mas nada disso – à parte a vexatória da derrota em si – me deixou tão incomodado quanto alguns focos de enérgicas queixas contra o profe Juan Carlos Osorio. Atordoados pela exibição paupérrima, foi possível ouvir de muitos dos mais de 25 mil são-paulinos os gritos de “burro” direcionados ao treinador do São Paulo.
Vida ingrata a de treinador! Que Osorio errou ao optar pelo lento Edson Silva, alvo cristalino dos contra-ataques esmeraldinos, parece óbvio. Também parece claro o erro na composição do banco de reservas sem nenhum atacante que pudesse ajudar a costurar tabelas e auxiliar na construção de jogadas para penetrar na sólida defesa do Goiás.
Mas… “Burro”?!?!?!? Já?!?!?!?
Com um trabalho de dois meses recém-completados e de uma sequência que, apesar de contabilizar a enganosa derrota para o Atlético Mineiro e o mentiroso empate com o Corinthians, teve bom, ótimo futebol apresentado?
Com um ambiente de instabilidade financeira e política que na verdade é uma fábrica de crises em vermelho, branco e preto?
Com a perda de jogadores que, bons ou ruins, de potencial ou não, implica repensar o grupo de jogadores, buscar alternativas, além do fato evidente de o trabalho ter sido iniciado com a temporada em andamento?
Com a necessidade de reais assimilação e identificação da cultura do futebol brasileiro, desde a reação dos atletas a determinados comandos até a complicada parte administrativa?
Osorio despediu-se de Medelín rumo a São Paulo sob calorosa homenagem dos torcedores do Atlético Nacional que entoaram o grito de “El equipo de Osorio tiene corazón, el equipo de Osorio merece ser Campeón”. Foram vários títulos pelo clube colombiano e admiração inconteste dos fãs. Para não ficar restrito à Colômbia, por aqui já despertou declarações entusiasmadas de jogadores veteranos do quilate de Rogério Ceni e Luis Fabiano.
E o que o são-paulino começa a dar em resposta dentro de todo esse contexto é um intolerante “burro”?
O torcedor é passional e sobre isso não resta dúvidas. Eu também sou, reajo muito mal a derrotas do meu time, sobretudo quando elas são definidas de modo tão vergonhoso quanto essa do Tricolor contra o Goiás.

Mas ser passional não impede de pensar e ponderar. Pensar e ponderar o futuro do clube que você ama!
Jogar contra Osorio – sem lhe dar o tempo necessário para implantar suas ideias e filosofias – é, hoje e neste momento, jogar contra o São Paulo. Em tempos de raros motivos de celebração para o são-paulino, a carência e o imediatismo que passam a ser externados pela torcida – somados ao amadorismo cada vez mais inflado da cartolagem do Morumbi – minam um trabalho que sequer começou em sua essência.
Osorio não terá vida fácil em sua aventura brasileira. Uma pena que a intolerância e a exigência por resultados e conquistas imediatos façam dela não somente difícil, mas potencialmente curta – curtíssima.
Entre o “burro” e os caranguejos que andam de lado, fico com o burro da vez – que, apesar da pesada carga que lhe depositam, trabalha sempre para mover-se adiante, em frente. E pelo São Paulo.
Por Rafael Bueno é jornalista.

Fonte: Blog do Juca

Esse artigo foi escrito por Xandão

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