6 de julho de 2015

Alex Bourgeois o homem que promete modernizar o futebol no São Paulo

O homem que quer mudar o jogo

Um matemático que fez carreira no mercado financeiro afirma ter encontrado a fórmula para montar o time de futebol perfeito, ao estilo do filme Moneyball.

Quem é Alexandre Bourgeois? 
Nascido na França e criado entre Paris e o Rio de Janeiro, cresceu sonhando com futebol. Se preparou e dedicou até virar jogador pelas categorias de base do Bordeaux, na França. Mesmo tendo chance entre os profissionais, focou nos estudos em Matemática e largou o futebol. Se formou na Suíça e fez carreira como executivo de bancos em Nova York, Londres, Paris e São Paulo. Casou-se com a filha de José Serra, Verônica, o qual é genro até hoje (conheceram-se em Harvard).

Desde 2010, decidiu só atuar no futebol. A partir de então, tornou-se CEO do fundo TEISA (Terceira Estrela Investimentos) que era parceiro do Santos em negociações. Participou de uma fatia da venda de Neymar ao Barcelona em meados de 2013 e faturou um bom dinheiro atuando com o grupo.

Fez parcerias com economistas e acostumado a cálculos complexos, estatística, modelos matemáticos e algoritmos, passou a se focar em como aplicar estes métodos no cenário nacional. Desde a década de 80, atuava com derivativos em NY, estruturava operações financeiras na JP Morgan e nos anos 90, veio ao Brasil como executivo do banco Société Générale.

Aos 47 anos, ele sonha em aplicar no mundo da bola o que aprendeu no dos bancos e assim, chegou ao São Paulo FC indicado por Abílio Diniz.
Chegada ao São Paulo FC. 

Para quem não sabe, nosso futuro CEO já esteve no Morumbi, conheceu os vice presidentes, conversou na semana passada com Osvaldo Abreu, Casares, Ataíde e demais. Osvaldo, responsável pelas finanças e já começa a se informar sobre que situação e panorama encontrará no Tricolor quando efetivamente assumir o posto. Na 6a foi apresentado aos diretores.

Com muita moral, muito desejo de fazer dar certo, Alexandre agora terá é muito trabalho e tem um desafio enorme: provar que o sistema que criou e começou a vender nos clubes que promete identificar o G4 e o Z4 e as peças principais para transformar um grupo campeão, funciona e que é sim um visionário, um vanguardista, um revolucionário e não um charlatão.

Futebol do Futuro? 
Este chamado futebol de futuro é o nome do time de economistas e professores que compõe a equipe que se reúnem desde 2012 discutem futebol em universidade de economia e administração em São Paulo. Uma das referências no assunto é exatamente nosso CEO, que se tornou referência e se especializou em encontrar jogadores acima da média e negócios rentáveis:

“Minha filosofia é tentar eliminar toda a subjetividade possível da avaliação dos jogadores. Quando você olha jogadores, percebe que existe uma imensa ‘desarbitragem’ no futebol brasileiro. Você pega quatro caras da mesma posição, com a mesma idade e os mesmos percentuais de desempenho, mas um custa R$ 1 milhão, outro R$ 4 milhões, outro R$ 13 milhões e outro R$ 15 milhões. Você pergunta por quê e ninguém sabe responder”.

“O futebol tem um problema: o conjunto é maior que a soma das partes. Não se faz um time só de craques para vencer e nem sempre um time tem craques para ser vencedor”.

“Os principais clubes da Europa trabalham dessa forma há tempos, mas nossa distância para eles é enorme. Quando falo desses conceitos para os cartolas do Brasil, eles acham que estou louco, querem chamar uma ambulância para me levar embora. Ao contrário de outros setores da economia, no futebol se estuda pouco e – sem trocadilho – se ‘chuta’ muito. Mas a quantificação diminui o grau de risco na decisão de investimento”

Nos últimos anos, Bourgeois passou a usar a matemática para tornar o futebol brasileiro mais pragmático (NEGÓCIOS mostrou isso na edição de novembro de 2013). Clubes geram planilhas de desempenho de cada jogador, consultorias se especializaram em analisar balanços das equipes (como a Pluri e a Futebol Business), empresas vendem dados das partidas aos clubes (a Footstats e as europeias Prozone e Opta). Mas o que Bourgeois mostrou, no café do Itaim, é algo novo.

O gol não importa

Laptop ligado e suco na mesa, ele começa a explicação. “O futebol tem um problema: o conjunto é maior que a soma das partes”, diz. Ou seja, montar um time não é só achar 11 bons jogadores. Nem sempre 11 craques formam um time vencedor, e nem sempre um time vencedor está cheio de craques. Então ele apresenta o campo da matemática que dá conta de problemas dessa natureza: a pesquisa operacional.

Essa análise permite que, com dados imperfeitos ou incompletos, alguém chegue à melhor solução possível. Foi uma teoria usada pelos engenheiros que mandaram o homem à Lua. “Havia um problema conhecido: chegar à Lua. Mas os dados eram incompletos, porque ninguém tinha ido lá”, diz Bourgeois. A tese foi aplicada em várias outras tecnologias, da bomba atômica aos prédios com elevadores inteligentes (que indicam qual elevador usar, comuns em edifícios corporativos modernos).

Baseado em pesquisa operacional, Bourgeois começou a trabalhar num algoritmo que dissesse quais jogadores uma equipe da série A deveria contratar para terminar o ano seguinte no G4, os quatro primeiros do Brasileirão. O algoritmo, claro, seria alimentado por informações dos jogadores. Mas quais informações? O que realmente importa? Ao acertar a mão nesses parâmetros, ele chegou a um resultado surpreendente.

“O gol, por exemplo, não importa”, ele diz – talvez se tornando a primeira pessoa do futebol a pronunciar a frase. “Gol é muito aleatório. Você chuta, a bola bate na cabeça de outro cara e entra. Outro jogador chuta, a bola bate na trave, corre por cima da linha e não entra”, diz. “O gol, para mim, vale zero.”

Ele então formulou uma hipótese. Para que um time faça gols, há duas condições básicas: ter a bola e criar uma situação de gol. “É o que leva ao evento aleatório gol”, diz. Assim, os parâmetros que avaliam os jogadores derivariam desses dois pontos: posse de bola e chances de gol. O número de passes dados por um jogador, por exemplo, não é um parâmetro. Já o número de oportunidades de gols criadas pela sequência de passes da qual ele participou, sim. A quantidade de bolas roubadas não é um parâmetro. Já o número de desarmes seguidos de passes que criam oportunidades de gol, sim. E por aí vai – são dezenas de atributos.

 Prevendo o passado

A essa mistura, ele acrescentou avaliações para posições específicas, mas sempre com uma adaptação, um “twist” na estatística. Para os atacantes, em vez de considerar os gols marcados, usou o aproveitamento de um artilheiro quando colocado em condição de marcar. No lugar dos desarmes dos zagueiros, a influência – ou correlação – de um zagueiro nas defesas do goleiro. Tudo feito, Bourgeois criou um banco de dados com as “notas” de todos os jogadores da série A. E foi fazer um teste.

Para validar o modelo, ele bolou um jeito de “voltar ao passado” para fazer previsões do futuro. A partir de dados de temporadas passadas do serviço Footstats, ele calculou as “notas” dos jogadores em 2011 e, com elas, simulou os jogos de 2012. Depois fez a mesma coisa para “antever” (ou simular uma antevisão) dos campeonatos de 2013 e 2014. Num slide do computador, Bourgeois mostra, lado a lado, as previsões e o que de fato aconteceu. O índice de acerto dos times rebaixados e entre os quatro primeiros (sem considerar a colocação exata) é de 87,5%.

Impressionante. Mas ele mostra a mão espalmada e passa aos slides seguintes, como quem diz “calma que não é tudo”. Nas próximas telas, surge um estudo de caso do Palmeiras – ele presta consultoria informal e negocia a venda da ferramenta ao clube. Bourgeois mostra as contratações sugeridas e – acredite – quantos pontos na tabela cada jogador acrescentaria no fim do ano. Leandro, da Chapecoense, acrescentaria 5,33 pontos. Marco Antônio, do Figueirense, mais 8,53. “Não são valores absolutos, é uma simulação na qual as contratações estão correlacionadas. E servem no Palmeiras. Se você analisar o Corinthians, podem ser outras”, afirma. “O que eu faço, resumindo, é estudar os efeitos positivos ou negativos de um atleta para um elenco.”

Para chegar à alegada exatidão, Bourgeois fez uma sequência quilométrica de simulações. “A gente pegava um time. O Cruzeiro, digamos. Então trocava o goleiro por outro e simulava os jogos que o time teria, para ver qual o efeito da mudança. Fizemos isso com todos os jogadores e todos os times do campeonato.”

A matemática complicada não chega a ser problema. Nascido na França e criado entre Paris e o Rio de Janeiro, ele está mais do que acostumado a cálculos complexos. Foi um dos primeiros a mexer com derivativos, no final dos anos 80, em Nova York. Estruturava esse tipo de opção financeira no banco Bear Stearns, depois comprado pelo JP Morgan. Nos anos 90, mudou-se para o Brasil como executivo do francês Société Générale. Veio criar derivativos na época da hiperinflação, das malucas aplicações overnight... “Faço conta chata faz tempo”, ele ri.

Caçador de ineficiências

O futebol também é paixão antiga. Bourgeois jogou pelas categorias de base do Bordeaux, da França. Chegou aos profissionais, mas seguiu o futuro mais certo dos estudos. Aos 47 anos, ele sonha em aplicar no mundo da bola o que aprendeu no dos bancos. “No mercado, aprendi principalmente sobre arbitragem de ineficiências. Detectar ineficiências, resolvê-las, ganhar com isso. Mas no mercado financeiro tudo já é feito por algoritmos, sua cabeça não vale mais nada”, diz. Já no futebol... “O futebol é possivelmente o grande setor da economia com mais ineficiências.”

A prova seria a baixa correlação entre o gasto de um clube com jogadores e o sucesso que obtém (o gráfico da página 41). “Na Europa, a correlação é total. Um clube gasta e obtém o retorno equivalente”, diz. É só um ponto do abismo que separa clubes europeus e brasileiros, no assunto gestão. “Tive uma reunião com o CEO do Real Madrid. Durante três horas, não ouvi a palavra futebol: era só ‘entretenimento’. Torcedor era ‘cliente’.”

Entre frases de boleiro e citações de prêmios Nobel de matemática, Bourgeois conta aonde pretende chegar. “Soa arrogante... Mas sonhar é de graça, né? Minha ideia é ter no futebol o impacto que bancos como Pactual, Garantia e Icatu tiveram no mercado financeiro. Transformar algo que ainda é amador em business.” As previsões da bola de cristal para o Brasileirão 2015? “Assim que os times estiverem fechados, mando para vocês. E combinei com alguns clubes: vou deixar um envelope lacrado com eles, para abrirem no fim do ano”, afirma. Sim, é um matemático confiante na fórmula que encontrou. “Não te dou que você vai ser campeão. Mas que vai pegar G4, eu consigo.”




Finalizando, o que isto tudo importa ao torcedor do São Paulo? Significa que este método de trabalho é moderno, sem precedentes no Brasil, e que pode ser um divisor de águas no Morumbi. Seria o fim das contratações de bandejada e sem eficiência. Vamos torcer para que dê tudo certo para podermos colher os frutos deste trabalho em um futuro nem tão distante assim.

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