23 de março de 2012

René Simões inicia trabalhos no São Paulo em busca de 'novo Messi'-



Com bandeira do jogo bonito e credenciado por visita ao Barcelona,
novo diretor-técnico promete revolucionar o Tricolor

René Simões chega ao São Paulo prometendo implantar filosofia do Barça.

René Simões só aceitou a proposta do São Paulo para ser o novo diretor-técnico do clube com uma ressalva: não adiar uma viagem que já estava marcada para conhcer a estrutura do Barcelona. Visita feita, ele recebeu a reportagem em Cotia, seu novo quarte-general, para mostrar como sua avidez por conhecimento pode revolucionar o futebol do São Paulo.

Erguendo a bandeira do futebol bonito, dos dribles e do espetáculo, ele contou ao LANCENET!, em entrevista exclusiva, quais são as suas principais missões no clube e não mediu as palavras para mostrar que sabe a importância do cargo no São Paulo. Em determinado momento, sintetizou:

- O São Paulo é o São Paulo, porra. É campeão mundial e tem que ganhar tudo sempre - bradou.
Entenda qual o caminho de René para buscar um 'novo Messi' em Cotia.


BATE-BOLA
LANCENET!: Qual a sua principal missão como diretor-técnico do São Paulo?
René Simões: Conquistar o torcedor com o futebol que nós (brasileiros) sempre jogamos. Dei muitos cursos no exterior e sempre perguntavam qual a filosofia de jogo brasileira. Explico a filosofia de jogo brasileira fazendo analogia com a tourada. O objetivo da tourada é matar o touro, mas o toureiro não dá tiro para matar com um revólver. Tem que ter um estilo para dominar o touro e matá-lo. O futebol brasileiro é assim: lógico que queremos gol, mas gostamos é de fazer com estilo. O bonito é a trivela, a chaleira, o chapéu e a bicicleta. Isso que eu quero no São Paulo.

L!: Como fazer com que o profissional e a base tenham o mesmo estilo de jogo?
RS: O que vou fazer é gastar um tempo grande aqui (no CFA de Cotia) e estabelecer esta filosofia. O objetivo é, em 2015, termos oito jogadores entre os 11 titulares. Quando tivermos esse grande número de jogadores entre os 11, todos vindos de Cotia, a filosofia já vai estar encrustrada no time, no entrosamento e no estilo de jogo. Não preciso ir lá conversar com o Leão agora para isso. Vai ser um processo natural.

L!: Como lidar com o velho paradigma do futebol de base: formar talentos ou vencer competições?
RS: Um time campeão do mundo não pode competir só por competir nunca. Temos que fazer uma formação de tão boa qualidade que nos faça ganhar as competições na base. Não formaremos um bom profissional sem gana, adrenalina e pressão. Os nerds não tem pressão, só conhecimento e informação. Sem luta, pressão e prática, o conhecimento não se torna sabedoria. Sem isso, o cara treme. O São Paulo é o São Paulo porra! Esse clube não pode entrar só para competir nunca.

L!: Qual o tamanho de sua autonomia no novo cargo? Chega a ponto de demitir profissionais?
RS: A questão de ter poder ou não, é muito relativa. Isso vai de acordo com o momento e a necessidade. Mas é claro que futebol não é só campo e bola. Os problemas de caráter administrativo serão resolvidos com um trabalho pensado.

AS MISSÕES DE RENÉ NO TRICOLOR
Tempo no cargo
René Simões tem planos pretensiosos em relação ao tempo que ocupará no cargo de diretor-técnico do São Paulo. Ele almeja ficar no comando da integração entre base e profissional do clube por, no mínimo, 20 anos.

Integração de CTs
Uma das principais metas de René é conseguir fazer com que a elogiada estrutura do CFA de Cotia esteja mais integrada com o CT da Barra Funda.

Revelações no principal
Simões também traçou uma meta audaciosa para o número de jovens revelados no clube na equipe principal. Ele estima que, em 2015, o São Paulo terá oito titulares do time principal formados na base.
Jovens na Olimpíada-16.
Além de estimar um número de jogadores no time principal, o novo “chefe” são-paulino fez outra previsão. Ele acredita que nos Jogos Olímpicos de 2016 o São Paulo terá quatro atletas na Seleção Brasileira.

A VISITA AO BARÇA
O LANCENET!, pediu que René Simões elegesse os três pontos que mais chamaram a atenção no clube catalão.

1) “Quando cheguei ao clube, uma das primeiras coisas que li foi a missão deles no futebol. Me impressionou bastante, porque estava escrito assim: ‘Fazer nossos fãs felizes jogando um futebol bonito’. Isso está colocado lá, como a meta deles. É muito legal!”

2) “Em uma reunião que tive com um dos chefes da metodologia do clube, ouvi uma coisa que chamou muito a atenção: ‘Todos nossos times são orientados a construir e não destruir.’

3) “Assisti a jogos de todas as categorias e me impressionei. Todas eram iguais. Pareciam Xavi e Iniesta em miniatura.”

Xavi é um dos símbolos do Barça, na opinião de René Simões

COM A PALAVRA
Carlos Rexach, ex-jogador e ex-técnico do Barcelona que ‘descobriu’ Messi, em entrevista exclusiva ao LANCE!

No Barcelona, busca-se o garoto que jogue futebol bonito e alegre. Essa mudança radical na base começou em 1988, e logo saíram grandes jogadores. Guardiola foi um dos primeiros, um jogador excepcional, que tocava a bola muito rapidamente, mas não era daqueles de sair driblando dois jogadores. Xavi é assim também, de muito toque de bola. Este é o futebol do Barça.

Em princípio, houve críticas, mas aqui se estabeleceu que deve-se buscar o garoto que jogue futebol. Antes, você via nos treinos um saco de bolas no meio do campo e todos correndo desordenados. No fim, tirava-se meia hora para jogar. Agora não: damos a bola para o jogador, para que ele treine sozinho. Eles já sabem como fazê-lo porque treinam assim desde sempre. Torna-se algo bastante natural.

RENÉ SIMÕES COMO DIRETOR-TÉCNICO

1994 - 1998 Jamaica
EXPERIÊNCIA NÃO É NOVIDADE - René Simões também ocupou o cargo de diretor-técnico da Seleção da Jamaica, na década de 90. Como principal feito, levou os jamaicanos à Copa do Mundo de 1998, na França, e ainda acumulou boas histórias.

Quando chegou, procurou seus jogadores e descobriu que muitos trabalhavam em hotéis (Warren Barrett carregava malas, Theodore Whitmore era barman).

Depois arranjou financiamento e pediu ajuda à Federação Jamaicana, criando o projeto “Adote um Jogador”, que consistia em uma empresa patrocinar um jogador específico, o que atraiu grandes corporações e teve muito sucesso.

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