13 de abril de 2012

‘O número 2’: Milton Cruz recorda histórias de 18 anos de São Paulo

‘Investidor’, auxiliar técnico monta a ‘seleção tricolor’ com jogadores que comandou e se esquece do pupilo Kaká
Entra técnico, sai técnico, e Milton Cruz está sempre lá, no São Paulo. Ao contrário da maioria dos auxiliares, Milton não acompanha um treinador, e sim um time. De tanto revelar bons jogadores, o chefe das categorias de base do São Paulo virou uma espécie de "faz tudo" na equipe profissional. O Centro de Treinamento é sua casa.

– Sou um dos últimos a ir embora. Sempre fico por causa dos treinamentos, aí depois tenho reuniões, faço ligações para negócio de contratações de jogadores. Os diretores pedem para contatar jogadores. Por isso, chego a minha casa tarde. Quem paga a conta do celular é o clube (risos). Ainda bem. Se não, eu estaria perdido – disse Milton Cruz.

Emerson Leão não trouxe um "número 2" quando voltou ao time do Morumbi, e isto aumentou a importância de Milton Cruz. Ele tem histórico de grandes descobertas. O maior dos pupilos surgiu no fim dos anos 90. Milton apostou todas as fichas em um garoto que sequer era titular absoluto nas categorias de base.

– Falei com o Vadão e nos fomos ver um jogo da Taça São Paulo, em Santo André. Chegamos lá, e o Kaká estava no banco. Ele me perguntou onde estava o jogador e ficou com um pé atrás. Mas disse para ele levar o Kaká para o time principal pelo menos por uns quinze dias. O Vadão, coração grande, bonzinho, disse: “está bom, Milton, vamos levá-lo”. Com um treino o Vadão já estava comentando que o moleque era diferenciado mesmo – recordou Milton.

Auxiliar técnico do São Paulo, Milton Cruz é o braço direito de Leão (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)

Seu pupilo virou titular do São Paulo, conquistou a Europa e foi eleito o melhor do mundo em 2007. Ele, por sua vez, ficou no time o Morumbi. Já são 18 anos no clube. Uma trajetória interrompida apenas por oito meses. O motivo foi a mudança de traje. Milton reuniu suas economias, colocou uma gravata, comprou ações de uma empresa e se aventurou no mercado financeiro.

– Estava em um avião lendo o jornal, passou um diretor e falou: “vai me dizer que você entrou neste negócio?” Eu falei que não e lia a notícia "Boi gordo entra em concordata". Estava chegando de viagem e fui ao aniversário da minha afilhada, chego lá e minha mulher estava com os olhos inchados de tanto chorar, todo mundo chorando. Ela me perguntou se eu já sabia o que tinha acontecido. Respondi: “Já sei, boi gordo entrou em concordata e nós dançamos” – contou o auxiliar.

A direção do clube entendeu a gravidade da situação e concedeu uma licença para Milton. Então ele foi trabalhar na Arábia para recuperar o dinheiro perdido. Bolsa de valores nunca mais? Não foi bem assim.

– Recuperei o dinheiro. Só que veio outro amigo e me convenceu a investir em um banco. Por isso que eu digo, amigo é um perigo danado. Aí rapaz, estou com um dinheiro aplicado há não sei quantos anos, passou um tempo e quebrou o banco. Não acreditei.

Dessa vez, não teve licença. Houve sim, o início de uma série de títulos. E nada mais justo do que pedir ao "faz tudo" escalar sua seleção destes 18 anos no tricolor. Rogério Ceni, Cicinho, Lugano, Miranda e Júnior; Mineiro, Josué e Raí; Luis Fabiano e Lucas. Mas falta um jogador... Vai colocar um meia ou mais um atacante?

– Posso dar uma idéia? Milton Cruz! (risos) Eu poderia jogar aqui.

Sim, os são-paulinos mais atentos perceberam que Milton esqueceu alguém muito especial.

– Não, eu não esqueci, é que o Kaká está na manga do meu colete. É o cara, o capitão. E tinha de me colocar no time. Não ia ficar fora (risos), mas agora o Kaká vai entrar no meu lugar. Primeiro o Rogério, que é o goleiro, depois o Kaká. Os outros a gente arruma um lugar para cada um.

Gente boa demais, como diz o Lucas. Contador de histórias, como diz Luis Fabiano. E ganhador.

– Já ganhei Campeonato Paulista, Libertadores, Mundial, três Brasileiros seguidos. Eu acho que são poucas pessoas que vão passar por aqui e conseguir isso que eu consegui, e ainda revelar grandes jogadores. Então, eu tenho uma importância grande em tudo isso. Para mim é um orgulho.

Quando nasceu foi batizado como Milton Cruz, mas, no Morumbi, ganhou mais um sobrenome: Milton Cruz do São Paulo.

1 comentários:

  • Paco says:
    13 de abril de 2012 às 23:57

    Milton Cruz é o cara... Já ajudou muito o São Paulo e tomara que fique por muito mais tempo lá!